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Banco Central encurta distância à meta de inflação

Projeção para IPCA no horizonte relevante recuou de 4% para 3,6% desde posse de Galípolo

03/07/2025 20h27 - Atualizado há 13 horas
Banco Central encurta distância à meta de inflação
Gabriel Galípolo Foto: Jose Cruz/Agência Brasil

Por Francisco Carlos de Assis e Eduardo Laguna - Há apenas seis meses no cargo, o presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, já completou quase metade do caminho em direção à meta de inflação quando se olha para as previsões feitas pela própria autarquia. No cenário de referência do Comitê de Política Monetária (Copom), aquele que considera juros e câmbio estáveis, a projeção ao IPCA no horizonte relevante observado pelo BC recuou de 4% para 3,6% desde a posse de Galípolo, em 1º de janeiro deste ano.

Como a meta central é de 3%, a desancoragem dos prognósticos do Copom retrocedeu em 40%: caiu de 1 para 0,6 ponto porcentual. Ainda resta percorrer mais da metade do caminho – isto é, os 60% restantes – para zerar toda a desancoragem que existia no início do mandato. Os avanços daqui para frente podem ser mais lentos, já que riscos fiscais e a instabilidade internacional interditam o caminho.

Apesar disso, a melhora no cenário do Copom já reflete uma confiança interna não apenas no efeito das doses de juros aplicadas no controle da inflação corrente, mas também no sucesso da comunicação. A partir de uma comunicação bem disciplinada e, por vezes, mais dura do que muitos inicialmente esperavam, a nova direção do BC tem conseguido afastar questionamentos de investidores quanto ao compromisso que Galípolo, bem como os outros diretores indicados pelo atual governo, teria com a meta.

Durante as últimas reuniões de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI), realizadas há dois meses em Washington, a apresentação de um estudo mostrando que as expectativas de inflação são mais sensíveis à comunicação do que propriamente a indicadores econômicos chamou a atenção dos representantes do BC. O estudo ajudou a reforçar a orientação de que é preciso evitar deslizes na interação com o mercado. Em suas agendas públicas, Galípolo e seus diretores têm tomado o cuidado de não se desviarem da comunicação oficial.

Todos sabem que não podem cair nas “cascas de banana”, que muitas vezes são lançadas nas interações com o mercado. Antes da última reunião do Copom, Galípolo, ao participar de um fórum promovido pela Esfera, reagiu assim quando tentaram arrancar uma sinalização do que seria anunciado pelo comitê: “Como quero continuar solto, sem ser preso, não posso contar o que vou fazer na política monetária, a não ser que seja de maneira oficial, em reunião do Copom, dando guidance.”

Deixou claro, assim, qual é a linha seguida na comunicação. Mais recentemente, na última quarta-feira, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton David, fez um discurso em evento da Anbima no qual não mudou uma palavra do texto publicado pelo BC. Ou seja, não há espaço para improvisos quando se quer demonstrar consenso.

Galípolo, não raro, gosta de destacar a importância do bom diálogo com toda a sociedade e, principalmente, com uma camada da sociedade que não entende de política monetária. Tem frisado que a boa comunicação agrega potência à política monetária.

Para o ex-diretor de Política Monetária do BC Luiz Fernando Figueiredo, a atuação da autarquia estava em xeque porque o presidente Lula diz com todas as letras que gostaria de ver a Selic bem abaixo do patamar de 15% em que se encontra. Nesse sentido, avalia Figueiredo, a resposta de Galípolo tem sido satisfatória.

Figueiredo, que diz estar bem animado com a atitude do BC, avalia que esse comportamento técnico da diretoria da autarquia é mais um capítulo da autonomia da instituição.

“Você tem uma diretoria que basicamente foi escolhida por um governo que gostaria de ver a taxa de juros muito mais baixa do que está. E essa diretoria está fazendo o seu trabalho de maneira primorosa, super arrumada, até acabou surpreendendo o mercado sendo mais hawkish, ou seja, sendo um pouco mais conservadora. É muitas vezes o papel que o Banco Central tem que ser esse mesmo, mas sem perder a tranquilidade e a serenidade”, diz o ex-diretor do BC.

Chefe do Departamento Econômico do Banco Inter, Rafaela Vitória considera que a desconfiança que existia em relação a Galípolo desapareceu, apesar de as expectativas de inflação ainda estarem bem desancoradas. “Não temos essa percepção no mercado de que o BC não está comprometido com a meta. Então a desancoragem é mais fiscal do que monetária. O BC subiu juros para 15%. Ninguém pode chamar esse BC de dovish. Não existe uma desconfiança da política monetária hoje”, disse.

Ela lembra que praticamente metade das expectativas do mercado para o último Copom era de manutenção da Selic e o BC deu uma alta de 0,25 ponto porcentual. “Vemos o BC bastante comprometido com a meta de inflação, tanto na sua atitude quanto na comunicação. Isso ainda não se traduziu em melhora das expectativas por causa do fiscal, porque os analistas ainda colocam em suas expectativas um risco de dominância fiscal”, avalia Rafaela.

Mais cautela
Quanto à continuidade da reancoragem das expectativas, rumo aos 3%, Luiz Fernando Figueiredo pondera que não depende só do BC, mas também do resto do governo, que tem feito um trabalho na direção contrária. “Vários programas, no final, estão expandindo a demanda, quando o que gente deveria estar fazendo seria esfriar a demanda”, observa o ex-BC.

Para o economista do Santander Marco Caruso, as comunicações do BC sob a presidência de Galípolo não se tornaram explicitamente mais hawkish, mas, sim, mais cautelosas. “Reflete um cenário de incertezas prolongadas e em diferentes fronts. O comitê tem salientado que a inflação segue acima da meta, com expectativas desancoradas, mas, também, passou a destacar a defasagem da política monetária em relação ao que foi feito no passado, assim como a ampliação da incerteza, elementos que demandam flexibilidade e cautela”, avalia Caruso.

O economista entende que esses elementos indicam uma postura de vigilância e prudência, mas não necessariamente uma guinada hawkish.

Os 60 pontos-base de gap para a meta, diz o economista do Santander, demandariam essencialmente uma desaceleração mais clara da atividade econômica, assim como uma postura fiscal mais contracionista. “Aos olhos de hoje, são elementos que não constam no cenário básico”, assinala Caruso.


FONTE: Por ECONOMIA JB com Agência Estado
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