Diz Boaventura:
“Neste momento, é quase cruel pensar em quem serão os ganhadores desta crise. Alguns parecem óbvios. Tal como aconteceu no fim da Segunda Guerra Mundial, a crise económica na Europa significa um boom para a economia norte-americana. Entre os mais beneficiados está certamente a indústria militar de vários países e, sobretudo, a dos EUA, tendo ao seu dispor um novo campo de intensa militarização que lhe foi oferecido pela trágica decisão de Putin. E, pela mesma razão, os neocons norte-americanos, que dominam a política externa dos EUA desde o 11 de Setembro, parecem estar a ter uma vitória depois de tantos fracassos. No momento em que escrevo, a conversações entre a Rússia e a Ucrânia dificilmente terão êxito. A posição dura do presidente Zelensky, assente em tamanha desproporção de força, assenta certamente em genuíno impulso patriótico. Mas também não me espantaria se fossem os neocons quem está a aconselhá-lo a não se render, agravando assim o sofrimento humano dos ucranianos. Sabem que o tempo corre contra a Rússia e que esta é a oportunidade do xeque mate final contra ela.”